sexta-feira, dezembro 07, 2007

Beowulf (2007)

Beowulf transpõe para o cinema, sob o formato 3D, uma adaptação do poema épico de mesmo nome que conta os feitos e infortúnios do mais valente dos vikings. Em resposta ao pedido do rei Hrothgar (Anthony Hopkins), Beowulf (Ray Winstone) chega à Dinamarca para derrotar Grendel (Crispin Glover), um ser meio-humano, meio-demónio que lhe atormenta o reino e o pensamento. Não imaginava Beowulf que os seus problemas não acabariam com a morte do demónio, pois sobre ele recairia a maldição suportada pelo rei, levando-o ao inevitável encontro com a mãe de Grendel (Angelina Jolie). O seu tempo de glória viria mais tarde a confundir-se com o seu declínio enquanto líder, guerreiro e principalmente enquanto homem.

Ao contrário do que poderá sugerir à partida, a recriação tridimensional das personagens não deixa de fazer transparecer as magníficas interpretações de actores como John Malkovich enquanto Unferth, o comandante das tropas do rei, Brendan Gleeson como Wiglaf, o braço-direito de Beowulf ou Robin Wright Penn como Wealthrow, a rainha, tendo permitido inclusivamente a adaptação de certos aspectos reais destes ao resultado pretendido. Veja-se o caso de Ray Winstone no papel de Beowulf.

Por outro lado, Beowulf peca por se focar demasiado nos momentos de conflito e deixar muito por contar. É certo que o desenvolvimento em CGI é por si só um apelo à espectacularidade, mas fica a sensação de que estes momentos necessitavam de maior enquadramento. A este facto associa-se o, para muitos escandaloso, afastamento da história que o realizador Robert Zemeckis imprimiu ao filme face ao poema original, algo apenas perdoável para quem considerou o filme uma obra independente ou simplesmente não teve acesso à obra literária.

Beowulf não é um filme de animação 3D como os que nos habituámos a receber de estúdios como a Pixar ou Dreamworks. O seu cariz adulto e acção visceral associados ao tema dos grandes épicos preenchem uma lacuna presente nos cartazes de cinema mais recentes. Poderá não ser um dos candidatos aos Óscares do próximo ano, até porque se insere numa categoria algo ambígua, mas é sem dúvida uma boa peça de entretenimento.

Apesar de não dispormos por cá de cinemas equipados com IMAX 3D, Beowulf pode ser visto em algumas salas em "verdadeiro 3D" com o recurso ao sistema Real D e o seu par de óculos polarizados. Dado o aumento da experiência imersiva introduzido por este sistema, não existem razões para não ver Beowulf no formato para o qual foi pensado, a não ser o talvez exagerado acréscimo no valor do bilhete.

4/5

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terça-feira, dezembro 04, 2007

Eastern Promises (2007)


O misterioso e carismático Nikolai Luzhin (Viggo Mortensen) é o motorista de uma das mais importantes famílias da máfia de leste, em Londres. A família pertence a uma irmandade de criminosos chamada Vory V Zakone. Chefiada por Semyon (Armin Mueller-Stahl), proprietário de um restaurante típico russo e cujo ar acolhedor disfarça o seu fundo cruel e brutal, a fortuna da família é "esbanjada" pelo seu volátil filho Kirill (Vincent Cassel), que está mais ligado a Nikolai do que ao seu próprio pai. Mas a existência cuidadosa de Nikolai é abalada quando se cruza com Anna Khitrova (Naomi Watts), uma parteira de um hospital de Londres. Anna é profundamente afectada pela situação desesperada de uma jovem adolescente que morre ao dar à luz um bebé. Anna decide tentar encontrar a família do bebé, tendo por base o diário da jovem falecida. É com este princípio que Eastern Promises vai-se desenrolando e nos leva para o interior da máfia russa.
David Cronenberg dá-nos um excelente filme, apoiado na dicotomia entre a personagem de Viggo Mortensen, um homem frio, sem compaixão e com um penteado à Elvis, e a personagem de Naomi Watts, uma mulher que luta pela vida de um bebé.
Viggo Mortensen dá, literalmente, o corpo pelo filme e não seria de mau tom uma nomeação para óscar. Com o objectivo de enriquecer e compreender melhor a personagem partiu sozinho para Moscovo, São Petersburgo e para a região da Sibéria nos Montes Urais, passando semanas a percorrer a zona sem tradutor, estudou os gangs da organização Vory v Zakone, leu livros sobre a cultura das prisões russas e a importância das tatuagens feitas na prisão como currículos criminais, aperfeiçoou o sotaque siberiano da personagem e aprendeu várias deixas em russo, ucraniano e inglês. Durante as filmagens, usou contas anti-stress feitas nas prisões com isqueiros de plástico derretidos e decorou a sua caravana com cópias de ícones russos. Certamente seria um prémio bem atribuído.
Como é óbvio o filme não tem aspectos só positivos. O filme acaba por cair em certos clichés habituais deste tipo de filmes, mas que não danificam o filme no seu geral.

4/5


Trailer: